As rosas que dão no inverno

23:14:00

Certo dia, quando saía para o trabalho reparei que uma jovem passava pela rua olhando o meu jardim. Eu não conseguia entender tanta ternura no mesmo olhar. Estávamos no inverno e a neve cobria todo o jardim, não havia lugar para flores ou coisa qualquer que pudesse causar tamanha ternura.
A partir deste dia, sempre que saía para o trabalho a mesma cena se repetia; passava os olhos pelo jardim e nada encontrava, no entanto, não demorava e os afazeres que eu tinha no resto do dia consumiam meu pensamento.
Foi num final de semana que resolvi tentar decifrar o que o meu jardim sem vida teria de especial e resolvi ir até a casa daquela jovem.
Minha voz cessou quando cheguei a frente da sua casa. Algumas paredes de vidro mostravam um belíssimo jardim de inverno com rosas do vermelho mais vivo que eu já havia visto. Esquecendo-me até de ser discreta fui surpreendida com uma voz doce atrás de mim:
- lindas, não são?! São as minhas rosas. Com estão as suas rosas?
- minhas rosas?
- não notou? Há lindas rosas nascendo também no seu jardim. E elas não são comuns, são as suas rosas.
Eu não estava entendendo absolutamente nada. Achei melhor sorrir e ir para casa. O céu já anunciava a chuva que comecei a sentir no caminho de volta. Era daquelas que ajudavam a anunciar a primavera e limpava boa parte da neve sobre a grama.
Ao chegar a casa, minha voz cessou novamente. Rosas de uma cor intensa e inexplicável já faziam parte do meu jardim. Não era como se tivessem sido plantadas a pouco, era como se o jardim perdesse toda a sua beleza caso elas não estivessem ali.
No primeiro momento, não tive dúvidas de minha loucura. No segundo, girava na minha cabeça o possessivo ‘minhas’, pois inexplicavelmente eu conseguia sentir por que elas eram minhas.
Corri a escrever um bilhete para minha jovem vizinha: “Querida vizinha, desculpe-me por meus horríveis cumprimentos. Até então, meu jardim, assim como minha vida, estava coberto pela neve e eu não conseguia ver que, mesmo em semelhante cenário, há detalhes que nos escolhem, cativam e dão sentido à nossa vida, assim como as rosas ao jardim, mas que precisamos olhar atentamente e retirar o gelo para plantar a esperança. Obrigada por ter aberto meus olhos e ter-me permitido cuidar das rosas do meu jardim. Por que elas não são rosas comuns. São as minhas rosas. E seja inverno ou primavera, elas me darão motivos para sorrir. C.F.”

(Dedico essa história a Juliana Sabatinelli, que talvez seja umas das poucas que vai entender o real sentido dessa história, obrigada amiga )

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