Palavras não-minhas

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Eu já soube falar coisas bonitas, combinar as palavras, brincar, fazer amor com elas. Quando elas me alcançavam e eu me rendia, era poesia na certa. Uma luz diferente a pousar sobre os encontros, desencontros, sobre os amores, a espera e a vida. Perambulava eu mesma dentro de mim, vi nascer e morrer tantas mulheres, personagens fortes e complexas, outras vaidosas e orgulhosas demais, algumas não suportavam a própria existência, outras eram todas cheias de si. Todas acabavam em palavras empilhadas e um tanto de tesão em ter por criar um mundo novo pra viver. Os sentidos todos se embaralham de tempos em tempos, dias em que as tempestades levam embora alguns tijolos e algumas certezas, nesses dias as palavras criavam quadros para pendurar nas paredes meio tortas e arruinadas, eu mergulhava o meu olhar nos quadrinhos recém pintados e as palavras me permitiam sentir o choro e a gargalhada, não aqueles que já foram, mas o choro e a gargalhada do momento presente, me permitiam encontrar o afeto que vinha antes do sentido das coisas, o afeto que sou e tenho nas mãos.
Mas eu não sei mais, esqueci talvez. Se lerem palavras bonitas, saibam que elas não serão minhas. 
Algo aconteceu e as palavras não se aprochegam e eu estou tão cansada de não ter palavras que resolvi escrever.
Quem sabe assim elas não se sintam desafiadas a jogar comigo um novo jogo
Quem sabe assim todas essas palavras não-minhas se tornem minhas logo que eu me torne outra
Pronto, quase me esqueci da crueldade das palavras e da vida: Como tornar-se outra sem dizer adeus?
É preciso morrer uma vez mais 



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