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Olhei a mim como se tu me olhasses
Despida dos esforços de tentar ser outra 
Crua e quase irreconhecível no espelho 
Que dor é essa que sinto em minhas entranhas sem que faca alguma perfure minha carne?
Que desejo é esse que me faz querer ser um receptáculo de sofrimento inquebrável como se fosse força que me transbordasse?
Que liberdade é essa que tanto me foi vendida que mais parece uma prisão quando começo a acreditar que que é minha culpa, só minha, toda essa solidão?
Não sei se olhei primeiro para as costas doídas ou para o sexo exposto a um desejo servil, mas quando notei a mulher que eu era 
Ela olhou de volta para mim 
Ela tinha um olhar cansado e caloroso, olhar de mãe sabe?
E eu quis dizer pra ela que hoje ela podia dizer NÃO 
Nos perguntamos juntas, eu e ela, sobre a cor das nossas peles, o tamanho do beiço sempre grande demais e os cabelos quase lisos, quase.
Alguns pedaços valem mais do outros, mas quanto vale o corpo inteiro?
Não sou nada, nunca serei nada 
A parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
Será?
Sinto que, desde esse olhar, os sonhos me escorrem como sangue por entre as pernas 
Restando talvez apenas um
O sonho de habitar o vazio misturado a estranha possibilidade de estar junto 
ainda e apesar de tudo

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