O Palhaço

22:23:00

Eu sou palhaço, carrego um nariz vermelho, um sorriso largo, piadas na ponta da língua, sorrisos à palma da mão.
Eu adoro o som da gargalhada da criançada, o menino travesso que deixo aflorar em mim todo espetáculo.
Sou assim desde menino; aprendi a esconder a dor, porque alegria é a única coisa que sempre esperaram de mim.
Já desejei encantar como um mágico, ser admirado como um trapezista, ser corajoso como quem enfrenta os leões, mas hoje eu só queria poder chorar.
Ai de mim, menino travesso, que carrega tanto vazio em um só coração; sou o que sou porque sempre fui, conheço todas as vertentes da alegria, queria descobrir o que é a paixão.
Deve ser isso que falta em mim; será mesmo que cabe em meu pequenino coração?
Quando acaba o espetáculo, eu espero todos irem embora e caminho para o silêncio, onde posso deitar na grama e olhar para o céu estrelado - é o berço dos meus sonhos.
Amiga estrela, que me olha todas as noites e brilha ainda que eu chore, ainda que eu borre a maquiagem de palhaço, ainda que a dor afaste de mim o menino travesso, me leva contigo?
O teu brilho tem o mesmo encanto da gargalhada de uma criança e o homem que vive dentro de mim só se mostra diante de ti.
Me deixa chorar e dar gargalhadas junto contigo; me deixa ver a dor dos homens e quem sabe entender a minha dor.
Não quero ser palhaço, quero ser estrela, descobri o que é paixão.
Mas a noite, dia após dia, continua escura, a estrela continua a brilhar.
E eu? Eu sou palhaço.

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